Of. BB 2ª Pedro Santos | Geógrafo |
Sendo esta a primeira crónica que
irei escrever para este blogue que em boa hora aparece, não posso deixar de
louvar a iniciativa do João Lemos em lançar algo de diferente que mostre o que são
os bombeiros do Alentejo.
Aproveito para agradecer a
oportunidade para participar nesta iniciativa e de partilhar a minha opinião
com o leitor. Relembro que tudo o que irei escrever irá reflectir a minha opção
pessoal nada mais.
Pretendo pois com as minhas
crónicas lançar temas para reflexão e debate que muito preocupam os bombeiros
do nosso país e em especial os do Alentejo.
Assim e sem mais delongas avanço
para o tema deste mês e do próximo: Bombeiros! Que futuro?
Ao longo dos últimos anos temos
vindo a assistir ao decréscimo de voluntários no quadro ativo dos nossos corpos
de bombeiros. Ora tal facto tem sido motivo de preocupação para quem dirige e
comanda os mesmos, embora e como todos sabemos ai-se tentando tapar o sol com a
peneira, dizendo que estamos bem de pessoal e respondendo dentro do possível a
todas as solicitações. Este sentimento é geral, existindo claro raras
excepções.
Assim impõe-se cinco questões
fundamentais que exigem uma reflexão profunda.
1-O que se está a passar para que
de ano para ano as recrutas tenham menos elementos criando um problema de
sustentabilidade no futuro?
2 - Porque será que todos os dias
assistimos a passagens ao quadro de reserva e pedidos de demissão dos corpos de
bombeiros?
3- Será que a falta de pessoal
condiciona a acção disciplinar por parte de quem comanda os corpos de
bombeiros?
4- Será a profissionalização o
caminho?
5- Que medidas podem ser tomadas
para inverter o rumo da situação?
A globalização foi algo que a
maioria das sociedades não estava preparada, hoje temos o mundo á beira de um
clique e a oferta é inúmera e infinita, levando os nossos jovens a afastarem-se
de ideais que no passado existiam desde a instrução primária até ao serviço
militar, ideais como solidariedade, ajuda ao próximo e espirito de sacrifício, estão
mais ausentes nos nossos jovens fruto da globalização, onde o individualismo
cada vez mais está presente.
Juntando ao exposto no parágrafo
anterior a inexistência de um plano de apoios ao voluntariado jovem, faz com
que cada vez mais não tenhamos grandes recrutas em termos de número, nem novos
ingressos nas fileiras dos corpos de bombeiros.
Urge pois criar medidas que
incentivem o ingresso dos jovens nos corpos de bombeiros.
Hoje em dia já ninguém ingressa
nos bombeiros apenas com o reembolso de propinas ou isenção de taxas
moderadoras com incentivo.
Para além dos incentivos é
necessário repensar urgentemente o modelo da formação inicial de bombeiro que
apresenta grandes debilidades na qualidade da formação de novos bombeiros.
O tempo de estágio é
demasiadamente longo criando desmotivação a quem quer contribuir voluntariamente
para o bem comum. A formação em contexto de trabalho deveria se iniciar no segundo
mês após o início da recruta, criando tutores que acompanhassem a integração
dos recrutas na vida do corpo de bombeiros e dotando mais precocemente os
recrutas com competências na área do saber/fazer o que é fundamental.
A formação através da prática
acompanhada é fulcral para despertar no novo recruta os ideais necessários para
o cabal cumprimento da missão que lhe será confiada no futuro.
Ora a qualidade da formação
inicial é determinante para o futuro do sistema de socorro, não nos podemos
resignar ao facto de que todos têm que passar porque falta pessoal.
Quando o critério quantidade se
sobrepõe ao critério qualidade, significa que estamos a produzir carne para
canhão e não bombeiros qualificados, capazes de realizar a missão para que são investidos
a quando da promoção.
As passagens ao quadro de reserva
são fruto de uma legislação que impõe ao bombeiro a realização de serviço
operacional mínimo, sendo que na maioria dos casos acontece pela não frequência
das 40 horas de formação exigidas na lei.
Aqui até concordo que exista uma
penalização para quem não cumpre pois já diz a máxima “só salva quem sabe”, e
quem não se procura aperfeiçoar não tem condições para salvar.
No entanto a passagem por 90 dias
ao quadro de reserva não me parece ser a melhor solução, porque afinal não
passam de uma férias forçadas e que em alguns casos até calha bem.
Ao invés da passagem ao quadro de
reserva porque não integrar estes elementos em programas de formação intensiva
de forma a conseguir as 40 horas de formação a realizar no primeiro trimestre
do ano, no fim quem não cumprisse perderia a qualidade de bombeiro, entregando
a farda, sim, porque como me dizia um adjunto no passado, “não é bombeiro quem quer
é bombeiro quem pode”!
De igual forma os bombeiros que
durante um ano não tenham disponibilidade para executar o restante serviço
operacional, no final do ciclo deveriam entregar a farda e não se enganarem a eles
próprios, aos colegas e ao comando.
Também acredito que muitas demissões
a que assistimos se devem ao facto das dificuldades criadas pela sociedade
nomeadamente o desemprego e que em muitos casos retira a possibilidade de
conciliar um pequeno emprego com o voluntariado e com o cumprimento do serviço
operacional.
Na maioria dos casos estes
elementos com grande mágoa pedem a demissão, ficando o bichinho o que faz que
algum tempo depois possam regressar. É de louvar a atitude que embora
custe, é honesta e sincera para consigo, com os colegas e com o comando.
Muitos dos que lêem este artigo
agora estão a pensar “estamos a falar de voluntários não pode ser assim!!
Que saudades do meu adjunto que
me dizia sapicientemente, “Pedro, aqui somos só voluntários duas vezes!! No dia
em que entramos e no dia que saímos!”
Hoje compreendo estas palavras
muito bem, a sociedade exige de nós a máxima entrega, dedicação e
profissionalismo e isto só se consegue com treino e formação todos os dias,
porque como dizia o Dr. Duarte Caldeira Ex-Presidente da LBP “voluntários por
opção profissionais na acção”.
Continuaremos a reflexão no
próximo mês.
Pensamento do mês “Derrotado não
é o que perde, mas sim o que deixa de Lutar”
Pedro de Almeida Santos
Geógrafo
Novembro 2016
Novembro 2016
2 comentários:
Amigo Pedro gostei do que tu falas e também sabes que a realidade é outra sim concordo com a formação pois até digo que 40 hora faz-se a brincar e queremos é Bombeiros com qualidade,porque quem espera por socorro,quer ser é socorrido e bem.Os corpos de Bombeiros TODOS devi-ão é terem Bombeiros profissionais e para completar todos os piquetes haver alguns Voluntários.É a minha opinião sr-Pedro Santos V Um abraço
Caro Amigo, subscrevo na íntegra o teu texto! Mas não só o tempo de formação é longo demais, como a falta de incentivos também é nenhuma, como por outro lado, quanto a mim a realidade tem a ver com a nova geração que se por um lado acha que ser Bombeiro até "é giro" como por outro o voluntariado no verdadeiro sentido da palavra está no fim, afinal aquilo a que se assiste é uma procura de ganhar formação e dinheiro ao mesmo tempo! A procura de emprego hoje em dia leva a que alguns jovens aproveitem esta oportunidade! Mas será este o caminho que queremos que os Bombeiros Voluntários levem!? A mim não me parece que no fim venha a ter um "final" feliz, passo o pleonasmo. Vamos sim procurar solucoes para motivar os jovesn de modo a que o Voluntariado não se perca, ou de uma vez por todas assuma-se o profissionalismo, afinal tanto tempo de recruta só mesmo para desempregados ou profissionais!
Um Grande Abraço,
M. Scapinakis
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