Of. BB 2ª Pedro Santos | Geógrafo |
Caros amigos, desde já agradeço a todos os que perderam 5 minutos para
ler o meu artigo do mês passado e agradecer a todos que o enriqueceram com os
seus comentários, o debate de ideias é sempre importante e, é para isso que
servem estes fóruns.
Bom respondendo á questão lançada na ultima crónica sobre o
condicionamento disciplinar de quem comanda pela falta de pessoal, penso, e na
minha modesta opinião que essa acção é efectivamente condicionada pela falta de
pessoal, senão vejamos:
O Comandante é responsável pelo socorro na sua área de atuação própria,
ora se o pessoal existente é pouco e se o mesmo exerce a sua capacidade
disciplinar de forma activa, obviamente que lhe irá faltar pessoal para o cabal
cumprimento da sua missão e do corpo de bombeiros.
Por outro lado e vejamos por exemplo a atribuição de equipamentos em
que os cálculos são feitos com base no
registo de pessoal efectivado no recenseamento nacional dos bombeiros
Portugueses (RNBP), e que são atribuídos a um qualquer corpo de bombeiros
equipamentos para 50 % do efectivo! Ora se existirem 90 bombeiros registados,
são atribuídos 45 equipamentos.
Bom, com este tipo de critério obviamente qualquer comandante terá
sérias dificuldades em punir os prevaricadores e incumpridores, uma vez que
números são números e a matemática ainda é uma ciência exata.
Cada vez mais quem exerce o poder disciplinar nos corpos de bombeiros
vê a sua acção condicionada pela falta de pessoal e, obviamente cada vez mais
tem de recorrer a mecanismos de bom senso de forma a manter um corpo de
bombeiros disciplinado e cumpridor perante a sociedade, sob pena de cada vez
mais ter que recorrer ao vizinho para garantir o socorro naquela que é a sua
área de responsabilidade.
Será que o futuro é a profissionalização?
A profissionalização dos bombeiros é um tema há muito debatido no
sector, no entanto existem algumas perguntas que necessitam de resposta e ás
quais até á data não me parece existirem respostas, nomeadamente em relação à
questão financeira.
Na conjuntura socioeconómica actual do nosso país penso que não existe
de forma alguma estrutura económica e financeira para profissionalizar todo o
sector dos bombeiros.
No entanto penso que o modelo misto profissionais/ voluntários que já existe
em alguns concelhos do país será o mais equilibrado, lembrando que não se pode
desprezar a força gratuita e eficaz que são os bombeiros voluntários do nosso
país.
A esta discussão é importante trazer o poder autárquico que em muitos
casos se imiscui da sua responsabilidade em matéria de protecção civil.
De realçar que existem municípios do nosso país que nem 1% do seu
orçamento municipal afetam á protecção civil e bombeiros, o que obviamente não aceitável
num país pertencente á União Europeia e em pleno século XXI.
Por exemplo, se um município com orçamento de 30 milhões de euros
afectasse ao seu orçamento cerca de 1,5% do mesmo, perto de 450 mil euros, poderia
sem sombra de duvidas suportar uma brigada de
12 bombeiros no seu município com salários na ordem dos 900 euros e
ainda iria sobrar dinheiro para investimento em equipamento e para o gabinete
municipal de protecção civil, reparem que falo de 1,5%.
Existe a urgência imediata de sensibilizar a classe política para a
falta de pessoal nos corpos de bombeiros e de a envolver e responsabilizar, de
forma a ser parte da solução e não parte do problema que, infelizmente ainda
acontece em alguns casos.
Outra forma de apoiar o voluntariado é criar incentivos de caracter
nacional e local, como por exemplo, a bonificação das taxas de IRS, redução no
Imposto municipal de imóveis, redução na taxa de águas e saneamento, pagamento
total das propinas universitárias em estabelecimento de ensino público,
estacionamento gratuito no concelho, preços especiais nos transportes públicos,
etc.
De referir que algumas destas
medidas já são uma realidade em alguns municípios do nosso país, mas o país e
os bombeiros têm de ser olhados como um todo e não como uma manta de retalhos
que em muitos casos tapa a cabeça mas destapa os pés.
Também por parte dos corpos de bombeiros deverá existir um esforço para
uma maior aproximação da sociedade cívil nomeadamente com iniciativas junto das
escolas e iniciativas do tipo quartel aberto de forma a envolver os jovens e a
sociedade naquilo que é a realidade dos bombeiros e que é por muita
desconhecida.
Os bombeiros nunca foram, não são, e jamais serão uma entidade que se
fecha á sociedade, mas sim uma entidade integrante da sociedade que conta com a
participação de todos que integram a sociedade.
Por outro lado é necessário que cada vez mais os planos curriculares
das escolas tenham integrada a educação para a cultura de segurança e
voluntariado de forma a que a semente seja incutida desde pequeno, porque o
futuro está nos que nascem agora.
Os bombeiros de Portugal poderão ter um grande futuro no entanto muito
tem de ser feito para que a sustentabilidade dos recursos humanos possa ser uma
realidade efectiva, de forma a manter o
orgulho no nosso passado, garantindo a firmeza do presente, e olhando o futuro
com confiança.
Desejo a todos os bombeiros de Portugal um santo e feliz natal e um
2017 muito próspero sempre em segurança e com mais respeito pelos BOMBEIROS!
Pensamento do
mês “ Mais faz quem quer, do que quem pode!”
Pedro de
Almeida Santos
Geógrafo
Dezembro 2016
3 comentários:
Caríssimo amigo, concordo com o que escreveste. Mas tudo isso nos leva a outros tipos de problemas: falta de respeito constantes aos mais graduados, tiranias para com os menos graduados, saída de bombeiros dos quadros activos por se sentirem injustiçados (e muitas vezes aqueles que optam por sair são mesmo os que sempre estiveram entre os mais bem preparados e foram também sempre os mais activos e prestáveis), entre muitas outras situações
Concordo com tudo o que esta escrito para manter um quartel com pessoal temos de fechar os olhos a muita coisa mas o problema de muitos quarteis e quando esse fechar de olhos so abrange os amigos e alguns voluntários e que por sinal são os que nao tem perdao assim mesmo com fechar de olhos existem quarteis vazios pois como ex voluntario digo que prefiro indisciplina a injustiças e cunhas
Concordo com tudo o que está escrito, não posso é concordar com o anónimo em relação a disciplina.
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