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| Of. BB 2ª Pedro Santos | Geógrafo |
Desde já apresento o meu pedido de desculpas pelo atraso da minha
crónica deste mês, mas com o turbilhão de temas que poderia falar, estava difícil
decidir qual, mas após ouvir o discurso mais corajoso no seio dos bombeiros dos
últimos anos consegui chegar a um tema.
Claro que falo do discurso do Comandante do corpo de bombeiros das
Caldas da Rainha no congresso extraordinário da Figueira da Foz.
Este discurso tocou nos pontos certos na altura certa, no entanto nesta
reflexão apenas pretendo abordar a identidade dos bombeiros.
Existimos em Portugal á mais de seiscentos anos, somos o pilar
principal do socorro em Portugal, a profissão mais reconhecida pela população
Portuguesa, a maior força de voluntários do país, a entidade que mais serviços
de emergência médica e transporte de doentes realiza, agentes de protecção civil,
e até já tivemos um Serviço Nacional de Bombeiros, afinal quem somos nós
bombeiros?
Bom conhecemos uma hierarquia que começa no infante e termina no
comandante do corpo de bombeiros, e daí para cima o que existe?
Nada, simplesmente nada, somos o único agente de protecção civil em que
o comandamento termina ao nível local. Mas afinal somos ou não uma força de
carácter municipal, distrital e nacional?
A esta altura já alguns leitores mais incautos estão a pensar então e a
ANPC, os CDOS e os CODIS?
Sim é verdade existe uma direcção nacional de bombeiros na ANPC, e
operacionalmente os CODIS fazem uns ensaios e tentam mandar em quem deixa, sem
o poderem fazer.
A bem da verdade importa referir que os corpos de bombeiros apenas têm
responsabilidade de socorro na sua área de atuação própria, a partir daí apenas
dever de colaboração.
Mas estas questões levam-me a colocar a seguinte pergunta: Será que não
temos o direito a ter uma estrutura de comando própria á semelhança dos outros
agentes de protecção cívil, como por exemplo GNR, PSP, Forças Armadas, INEM,
etc.
Será que nestas instituições também existe a ingerência nas suas
atividades por parte da ANPC através dos seus representantes operacionais
distritais?
Bom a esta altura, alguém dirá, mas a ANPC financia os corpos de
bombeiros! Pergunto algum corpo de bombeiros, consegue sobreviver com o
financiamento do PPC da ANPC?
Não me parece mas nunca se sabe, desde que vi um porco a andar de
bicicleta já acredito em tudo.
Porque é que um qualquer comandante tem de cumprir ordens e dar
explicações a um CODIS militar ou civil, que em muitos casos nem sabe o que é
um veículo de bombeiros, ou nem conhece o triângulo do fogo, mas que por sorte
foi ali colocado porque era sócio de determinado clube, ou porque não existia
vaga no sua unidade para o seu posto e tinha de ser encaixado nalgum sitio? Da
minha parte agradeço a disponibilidade, mas o que não serve para os outros para
mim também não serve.
Infelizmente no nosso país ainda apenas é premiado o caciquismo, a
cunha, o favorecimento, em detrimento da competência e da capacidade, mas isto
daria outra crónica.
Das muitas conversas que tenho com bombeiros, o sentimento é
generalizado, ninguém nos respeita, nem á nossa identidade e tradição.
Quando se encontra este consenso no seio dos bombeiros, não é de
admirar a desmotivação e a dificuldade em cativar novos voluntários.
Penso que é urgente recuperar a nossa identidade e para que isso
aconteça temos rapidamente que voltar a ter o nosso Serviço nacional de
Bombeiros, com comando próprio, local, distrital, regional e nacional, comando
este a ser ocupado por elementos oriundos dos bombeiros, porque existe muita
competência e capacidade no seio dos bombeiros Portugueses, pessoas com mérito e
conhecimento de causa.
Acho que é altura de dizer basta, não podemos mais ser o parente pobre
do sistema, com a agravante de outros usarem os nossos créditos para proveito
próprio e de terceiros, sem que ganhemos nada com isso.
Basta de ver os outros a passearem ferraris e sermos nós acusados de querermos
ferraris para o desempenho da nossa missão.
Acho que é hora de acordarmos e mostrar a nossa indignação, como disse
o Comandante das Caldas da Rainha “se não tivermos DECIF não temos”, mas com a
nossa dignidade e honra não podem brincar mais.
Por uma estrutura nacional própria de bombeiros!
Pensamento do mês: Tão ladrão é o que rouba, como aquele que fica á porta!
Pedro Santos
Geógrafo
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